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#36

Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2009

Carlos,

Hoje encontrei minha aliança. Não achei que a tivesse mais, mas também não sei porque achei que não tivesse. Olhando pra ela, agora, ao lado da folha de papel, já não é uma aliança, mas um pedaço de metal sem valor. Pensei em atirá-la pela janela, mas o remorso provavelmente me consumiria por longo tempo. Já bastam meus próprios remorsos, aqueles que cultivo com tanto cuidado. Não, não pense que estou fazendo drama. Não estou. Não quero que sinta pena de mim. Eu só quero que você entenda que esse pedaço de história que hoje está jogado em minha escrivaninha, confunde meus sentimentos.

Lembro do dia em que você me deu, eu abri a caixinha e fiquei sem saber que reação ter. Um misto de terror e surpresa invadiram meu corpo. Fiquei pálida, fria, ao menos você disse que fiquei assim. Não sabia se devia tirar o anel da caixinha e colocá-lo no dedo. Não sabia se deveria responder qualquer coisa. Naquele momento, eu só não queria que a minha vida mudasse; Não é irônico? Quando você partiu, eu também não queria que minha vida mudasse, mas em um sentido tão oposto...

Talvez o problema seja esse. Talvez sejam as mudanças.Não gosto de mudanças. Nunca gostei, mas desde que você partiu, uma mudança é a única coisa pela qual anseio. Poderia me habituar novamente a vida sem você. Afinal, ninguém passa a apenas existir assim em um corpo sem vida só porque terminou um relacionamento - ao menos é o que todos dizem e, apesar de você não falar, é o que eu sei que você também pensa - mas todos os dias, ao acordar, penso que tenho o dia inteiro pra fazer o que eu quiser, mas a única coisa que tenho vontade é de pensar em você.

E as horas vão passando como se não passassem. Como se eu estivesse presa a uma falha do tempo que me deixa nesse lapso sem vim. De repente passou da hora do almoço, da hora do banho. De repente passou da hora. Já é noite. Hora de dormir. E acordar na mesma rotina. A eterna rotina de viver pra lembrar que um dia eu vivi por você. A rotina de viver pra saber que nunca mais viverei por nada ou ninguém. Quantas vezes me peguei pensando no que eu faria se ouvisse o barulho da porta e fosse você virando a chave, entrando, segurando minha mão e dizendo que as coisas se resolveriam. Daí eu olho ao redor, pra esse caos em que se transformaram os meus dias e percebo que você não vai chegar. Eu não vou ouvir nunca mais o som do seu chaveiro batendo na chave, dando duas voltas na fechadura e seu 'Boa noite, amor'. Não há mais amor na noite.

Talvez seja por isso esse apego às pequenas coisas. Ao anel com seu nome gravado, com o símbolo de infinito. Talvez eu devesse ter aprendido que nada é infinito, só essa dor.

Olívia

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