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#25

Montes Claros, 03 de setembro de 2008

Carlos,

Estava ansiosa por te escrever. Não estou no Rio, acho importante te avisar. Fico preocupada que tu me procures e não me encontres e fiques preocupado por qualquer motivo. Depois daquele incidente na universidade, minha irmã achou melhor me trazer pra cá e não me deixar mais dirigir. Como se eu fosse sair por aí atropelando as pessoas aleatoriamente. Estou no interior de Minas, em Montes Claros, na casa de uma tia. Não sei se você conhece a cidade, acho que não. Aqui consegue ser mais quente que o Rio. Quente e seco. Não acho que tenha sido uma boa ideia ter vindo. Com esse calor, sinto ainda mais dificuldade de respirar. A Alice diz que é psicológico.

Ela ficou aqui por alguns dias. Saímos, fomos até o clube, almoçamos por lá. A comida é boa. Comi carne. Nem lembro há quanto tempo não comia carne. Foi bom. Nos tempos em que ela esteve aqui, ainda saí para dar umas voltas, mas aqui faz muito calor. Muito calor. Não tenho mais vontade de sair.

Na verdade, tem dias em que me bate uma ansiedade... Meu coração dispara, minhas mãos começam a suar e eu tenho a nítida impressão de estar próxima da morte. Há tanto tempo quero te avisar que estou aqui, mas acho que Alice levou meu celular porque não o encontro em lugar algum. Tentei te ligar do telefone da casa, mas acho que fico meio confusa com os códigos de área e as operadoras de telefone. Alice me liga todos os dias, a noitinha. Às vezes só percebo que chegou a noite quando o telefone toca e tia Amélia me chama.

A tia Amélia é muito simpática comigo, mas, às vezes, posso jurar que há um vislumbre de piedade em seus profundos olhos azuis.Eu não entendo bem. Ela tenta fazer todas as minhas vontades, mas ela não entende que não tenho mais tantas vontades. Queria te escrever, mas não encontrava papel na casa. Não é estranho? Uma casa sem papel. Não há computadores. Já esperava por isso, afinal, tia Amélia não é do tipo que vive conectada, mas não ter papel... Por que diabos não haveria um papel em uma casa?

Ela faz pão de queijo todas as tardes. Pão de queijo em Minas é tão clichê, não é? Mas eu como, pão de queijo com café. Tenho medo de engordar, apesar de minha tia dizer que preciso, mas sabe como é essas pessoas mais antigas, seus padrões são estranhos. Ela diz que estou muito magra, mas, apesar de minhas roupas estarem largas, não acho que estou magra. Tenho medo de engordar muito e, quando voltar, você não gostar mais de mim. Apesar de você ter dito que me amaria de qualquer forma, não quero abusar, ainda mais no meio dessa crise pela qual estamos passando.

Não sei o número daqui, senão te mandaria pra você me ligar. A Alice acha que não devo me preocupar com isso, que você vai ficar bem, mas não consigo me preocupar sem saber como você está. Devo voltar logo para o Rio. Não vou aguentar ficar aqui por muito tempo. Aqui é muito quente. Eu já disse isso, não disse?

Espero que esteja bem.

Olívia.

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